quarta-feira, 25 de maio de 2011

#OrgulhoNerd

Vida longa... e próspera!
 
Era o primeiro ano do Ensino Médio. Durante o intervalo, dois amigos jogam "Magic - The Gathering" no gramado entre os blocos de salas de aula, enquanto um outro rapaz só assiste, tecendo comentários engraçadinhos a respeito dos nomes e das descrições contidas nas cartas. A partida já se encaminhava para um final épico, quando três gigantes - veteranos do 3º ano; e quando eu digo "veteranos" quero dizer: "aqueles caras que não estudam e repetem as séries em progressão exponencial" - aparecem do nada, como que advindos de um buraco de minhoca maligno de Stargate.

Não eram pessoas, eram orcs. Com um projeto de sorriso entre os lábios cheios de baba verde, o que parecia ser o líder da horda bagunçou todo o plano do duelo. Os jogadores conseguiam sentir o peso do mana de cor preta que vinha dele. Um dos meninos colocou a mão no bolso, procurando um Círculo de Proteção ou coisa assim. O garoto que só comentava o jogo balançou a cabeça, negativamente. É melhor não provocar as criaturas.

- Então vocês são os idiotas do primeiro ano? - falou o Darth Vader.

"E vocês devem ser os imbecis do terceiro...", uma mente sagaz devolveu, mas o apego à vida impediu a boca de articular as palavras.

- Viemos aqui para acabar com a raça de vocês!

"A raça de vocês é que deveria ter sido extinta no dia em que o Um Anel foi lançado no abismo de fogo em Mordor", outra cabeça pensante respondeu, pá-pow, sem exteriorizar.

O garoto engraçadinho, que nem gostava tanto assim de Magic, mas estava ali entre bons amigos, pensou em ensaiar os movimentos preparatórios do hadouken. Mas lembrou que seria muito difícil executá-los com perfeição diante de uma ameaça tão iminente, em um inimigo tão próximo. Esse golpe necessitava de um mínimo de espaço. Desistiu. Pensou que não viveria tempo suficiente para saber o que raios aconteceu com Fox Mulder. Não chegaria a ser mestre de uma mesa de GURPS. Não assistiria aos demais filmes da trilogia de Matrix.

Os dementadores avançaram. Um dos meninos começou a choramingar. O outro tomou posição - afinal, aquelas aulas de ninjutsu com o tio de terceiro grau, que ele tomou por querer imitar Kenshin Himura, poderiam ser úteis... a despeito do fato de não haver espada alguma para aplicar o battoujutsu.

O piadista ainda tinha uma última carta na manga. Nunca acreditara em signos mas, como bom virginiano, fechou os olhos e mentalizou. Abriu os olhos de repente, por trás de seus óculos fundo-de-garrafa, e soltou um tímido "Rá!". Nada aconteceu. Shaka era o cavaleiro mais poderoso das Doze Casas. O Tesouro do Céu funcionava com ele, não com um moleque do Colegial. "Por favor, moço, no estômago não, que eu tenho problema de gastrite", foi o que conseguiu dizer... O chefe das criaturas das trevas veio em sua direção, e ia preparando um belo soco na face, atendendo, como um gentleman, ao seu pedido.

"Logo hoje fui esquecer meu sabre de luz", lamentou um dos garotos.

O sinal tocou. Os quinze minutos de intervalo mais longos de toda a existência do ser humano na Terra finalmente haviam acabado. O Seu Vagner, inspetor de alunos, apareceu, como um EVA salvador, vindo dos céus.

- Largue o menino! O que vocês estão fazendo aqui fora? Você aí: quer briga? Vai procurar alguém do seu tamanho! Já pra sala de aula! E vocês... recolham essas cartas, senão vou jogar tudo no lixo! Vocês não deveriam mexer com isso, é coisa do demônio. Anda, anda, anda... que eu não tenho o dia todo!


***

Isso aconteceu em 1999, na Escola Técnica Estadual Pedro Ferreira Alves, em Moji Mirim, São Paulo. E o rapaz do estômago, era eu. Numa época em que ser nerd era ser escória e pária da sociedade. Se bobear, o Darth Vader da história deve ser hoje o office-boy do Padawan que esqueceu o sabre. Os nerds não mudaram, foi o mundo que mudou. Não sei dizer se isso é um "ainda bem" ou um "ih, rapaz".

De qualquer forma, é o meu jeito de dizer: Feliz Dia do #OrgulhoNerd.


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Mitologia (ou A Verdadeira Face do Tempo)

As pessoas têm uma noção errada a respeito do Tempo. Para o senso comum, o Tempo é um senhor idoso, de cabelos compridos sobre os ombros, e longa barba branca. Um velho sábio e contido, de voz de trovão, ainda que calma... 

Se você também pensa assim, não poderia estar mais enganado.


O Tempo é um moleque mimado e arteiro. É uma criança, apesar dos seus milhares de anos de idade. O Tempo é orgulhoso e egocêntrico, não espera por ninguém, não dá bola pra ninguém. O Tempo sai correndo quando você mais precisa dele, e faz de tudo pra chamar a sua atenção quando você não tá nem aí. Ele não entende que poderia dar uma paradinha de vez em quando, e não te ouve nem quando você implora por mais um minutinho. O Tempo é um pré-adolescente rebelde e encrenqueiro.

Mas como toda criança, o Tempo precisa de disciplina. Afinal, o Tempo tem muito potencial. Ele só precisa de uma direção, de uma trilha segura, de objetivos. Se você puder criar o seu Tempo, educá-lo, cuidar direitinho dele, com certeza você terá um tesouro nas mãos.

O Tempo não cura nada, o Tempo não sabe de nada. Quem cura mesmo é o Amor. Esse, sim, é um cara maduro, vivido, e sábio. O Amor é seguro de si, é firme sem ser estúpido, é manso sem ser leso. E o Amor pode fazer o Tempo se desenvolver... e pasme: em troca, o Tempo fará o Amor crescer também...


Só não esqueça de uma coisa: não pressione tanto o Tempo. Afinal, ele é só uma criança...