quarta-feira, 15 de junho de 2011

Sobre guarda-chuvas e sombrinhas: Um estudo neurossociológico

Todo estudo acadêmico-científico que se preze tem que começar com uma definição formal. Pois bem! Gosto particularmente do conceito do povo amazonense a respeito do tema, para quem, não importa a ocasião, guarda-chuva é sempre uma "sombrinha". Isso mesmo: pode estar uma chuva torrencial lá fora, à noite, sem energia elétrica, que o caboclo só sai de casa com uma sombrinha. Amazonense não usa guarda-chuva. Usa sombrinha. E pode ser um baita guarda-chuva, do tamanho de uma barraca de camping para 20 pessoas - vai continuar sendo uma singela sombrinha.

Diferenças clássicas entre guarda-chuvas e sombrinhas

Isto posto, há que se justificar a origem do texto. Estava o autor saindo de casa, às 7h30 da madrugada de uma segunda-feira preguiçosa, quando começou a chover forte. Abrigado pelo veículo, não deu muita bola para a chuva, até se lembrar de que o trajeto entre o carro e a repartição onde trabalha torna-se imensamente mais comprido em dias de tempestade (valeu, Einstein!). Pensou em voltar para buscar seu guarda-chuva e já vinha fazendo um retorno "semi-proibido", quando atinou para o fato de que não possuía um guarda-chuva desde o dia 27 de novembro de 2005. Neste fatídico dia, o autor do estudo perdeu seu 61º guarda-chuva, o que motivou uma decisão definitiva no reveillon daquele mesmo ano: nunca mais teria uma sombrinha novamente.

É uma decisão logicamente simples e menos dramática do que aparenta: o estresse causado pela perda de um guarda-chuva não compensa seu valor de mercado. A conta é a seguinte: considerando que adquiri, a partir dos meus 15 anos de idade, 61 guarda-chuvas; considerando que a média de preço de um guarda-chuva comum, médio, preto e sem desenhos, já descontadas a depreciação, valorização das moedas, planos econômicos e inflação, é de aproximadamente R$ 15... Gastei, por ano, algo em torno de 85 reais! Isso significa dizer que, todos os anos, eu esquecia 85 contos em ônibus, banheiros de shopping, cinemas, salas de aula... Oitenta e cinco reais! Em guarda-chuvas!

Infográfico (clique para ampliar)

O guarda-chuva é um daqueles objetos místicos que você só percebe sua existência no caso de ausência, como, por exemplo, aquele pedaço de ovo de páscoa que você esqueceu na geladeira e que, no dia em que passa o tempo todo pensando em chegar em casa para finalmente devorá-lo, descobre que seu irmão caçula foi mais rápido.

Mais místico que isso, no entanto, é a capacidade inerente ao objeto de simplesmente desaparecer. Se você já teve um guarda-chuva, com certeza você já perdeu. A atual sombrinha que você tem hoje provavelmente será deixada largada em algum lugar nos próximos 2 ou 3 meses. Até mesmo quem não tem guarda-chuva já perdeu o de alguém! Há casos documentados de vítimas que juram ter perdido o maldito dentro de suas próprias casas, mas nunca, jamais, terem-no encontrado novamente.

Para mim, isso é algum tipo de conspiração das empresas produtoras deste estranho objeto. Uma forma de manter o mercado de sombrinhas aquecido e com demanda sempre crescente. Só pode!




Voltando ao campo mais técnico, e tomando por base os conceitos difundidos por Murphy (1952), proponho o "Teorema Básico do Guarda-Chuva". O teorema, que claramente bebe na mesma fonte (com o perdão do péssimo trocadilho), na "Teoria da Proximidade do Banheiro" (estudo clássico cujo corolário mais famoso é: "Quando você está apertado para ir ao banheiro, quanto mais próximo você estiver de um, mais irresistível será a vontade"), expõe que a probabilidade de perder um guarda-chuva cresce exponencialmente, em função da precipitação do momento, enquanto que a probabilidade de recuperá-lo decresce de maneira inversamente proporcional. Isso significa, em termos leigos, que quanto maior for o toró, mais chances você tem de esquecer a sombrinha em algum veículo ou local que torne impossível sua recuperação. Ou seja, você perdeu o dito-cujo para sempre, playboy!


O fascínio e a mágica em torno do guarda-chuva, e até mesmo uma certa obsessão pelo objeto, podem ser inclusive percebidos na arte. A Velha Surda e o Pinguim o usavam como arma. Gene Kelly tinha uma sombrinha como parceira de dança. Era meio de transporte para Mary Poppins. O mundo entrou em colapso depois que uma organização chama "Guarda-Chuva" liberou um vírus que transformou todo mundo em zumbi em Resident Evil. E, claro, foi hit de Rihanna que venceu um Grammy em 2008.

O autor do estudo continua firme em não adquirir outro guarda-chuva. Mas isso pode mudar a qualquer momento, instável e indeciso como a previsão do tempo...